5 de dezembro de 2015

A VOZ DA TÍLIA




A voz da tília


Diz-me a tília a cantar:" Eu sou sincera,
eu sou isto que vês: o sonho, a graça,
deu ao meu corpo o vento, quando passa,
este ar escultural de bayadera...

E de manhã o sol é uma cratera,
uma serpente de oiro que me enlaça...
Trago nas mãos as mãos da Primavera...
E é para mim que em noites de desgraça

toca o vento Mozart, triste e solene,
e à minha alma vibrante, posta a nu,
diz a chuva sonetos de Verlaine..."

E, ao ver-me triste, a tília murmurou:
"Já fui um dia poeta como tu...
Ainda hás-de ser tília como eu sou..."

Florbela Espanca




1 de dezembro de 2015

IPÊS - AMARELOS




 IPÊS - AMARELOS


“O mundo é muito bonito! Gostaria de ficar por aqui... Escrever é meu jeito de ficar por aqui. Cada texto é uma semente. Depois que eu for, elas ficarão. Quem sabe se transformarão em árvores! Torço para que sejam ipês-amarelos..." 

© Rubem Alves 


“Amo os ipês, mas amo também caminhar sozinho. Muitas pessoas levam seus cães a passear. Eu levo meus olhos a passear. E como eles gostam! Encantam-se com tudo. Para eles o mundo é assombroso. Gosto também de banho de cachoeira (no verão…), da sensação do vento na cara, do barulho das folhas dos eucaliptos, do cheiro das magnólias, de música clássica, de canto gregoriano, do som metálico da viola, de poesia, de olhar as estrelas, de cachorro, das pinturas de Vermeer (o pintor do filme “Moça com Brinco de Pérola”), de Monet, de Dali, de Carl Larsson, do repicar de sinos, das catedrais góticas, de jardins, da comida mineira, de conversar à volta da lareira. Diz Alberto Caeiro que o mundo é para ser visto, e não para pensarmos nele. Nos poemas bíblicos da criação está relatado que Deus, ao fim de cada dia de trabalho, sorria ao contemplar o mundo que estava criando: tudo era muito bonito. Os olhos são a porta pela qual a beleza entra na alma.” 

© Rubem Alves

QUALQUER COUSA QUE TEM REAL PALADAR


Arte - Van Gogh - Quinces, Lemons, Pears and Grapes, Autumn 1887



QUALQUER COUSA 

QUE TEM REAL PALADAR


Verdes e ouros de essência tal, frutada,
Passeiam pincéis principados de vida;
Os que sabem decore os refinados
Gostos, tela que luz ventos alados.

Ledes campos dourados que bordam
Certas travessas, mesas de finesse,
Engravidam os lábios dos que as olham;
Tal é o talento, o coração não esquece!

Fermentados pasteis que certo artista
Degustou em clave sol e veem-se à vista
Desarmada, transpõem outro outono!

Qualquer cousa que tem real paladar,
Frutas da época, ou não, são os tons de amar;
Só a arte consagra e lhe concede o trono.

© RÓ MAR

JOCKEY AMARELO



O Maestro Sacode a Batuta


O maestro sacode a batuta, 
A lânguida e triste a música rompe... 

Lembra-me a minha infância, aquele dia 
Em que eu brincava ao pé dum muro de quintal 
Atirando-lhe com, uma bola que tinha dum lado 
O deslizar dum cão verde, e do outro lado 
Um cavalo azul a correr com um jockey amarelo... 

Prossegue a música, e eis na minha infância 
De repente entre mim e o maestro, muro branco, 
Vai e vem a bola, ora um cão verde, 
Ora um cavalo azul com um jockey amarelo... 

Todo o teatro é o meu quintal, a minha infância 
Está em todos os lugares e a bola vem a tocar música, 
Uma música triste e vaga que passeia no meu quintal 
Vestida de cão verde tornando-se jockey amarelo... 
(Tão rápida gira a bola entre mim e os músicos...) 

Atiro-a de encontra à minha infância e ela 
Atravessa o teatro todo que está aos meus pés 
A brincar com um jockey amarelo e um cão verde 
E um cavalo azul que aparece por cima do muro 
Do meu quintal... E a música atira com bolas 
À minha infância... E o muro do quintal é feito de gestos 
De batuta e rotações confusas de cães verdes 
E cavalos azuis e jockeys amarelos... 

Todo o teatro é um muro branco de música 
Por onde um cão verde corre atrás de minha saudade 
Da minha infância, cavalo azul com um jockey amarelo... 

E dum lado para o outro, da direita para a esquerda, 
Donde há árvores e entre os ramos ao pé da copa 
Com orquestras a tocar música, 
Para onde há filas de bolas na loja onde a comprei 
E o homem da loja sorri entre as memórias da minha infância... 

E a música cessa como um muro que desaba, 
A bola rola pelo despenhadeiro dos meus sonhos interrompidos, 
E do alto dum cavalo azul, o maestro, jockey amarelo tornando-se preto, 
Agradece, pousando a batuta em cima da fuga dum muro, 
E curva-se, sorrindo, com uma bola branca em cima da cabeça, 
Bola branca que lhe desaparece pelas costas abaixo... 

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"

E À ARTE O MUNDO CRIA



E à Arte o Mundo Cria


Seguro Assento na coluna firme 
Dos versos em que fico, 
Nem temo o influxo inúmero futuro 
Dos tempos e do olvido; 
Que a mente, quando, fixa, em si contempla 
Os reflexos do mundo, 
Deles se plasma torna, e à arte o mundo 
Cria, que não a mente. 
Assim na placa o externo instante grava 
Seu ser, durando nela. 

Ricardo Reis, Odes 
Heterónimo de Fernando Pessoa 

SIGNIFICADO DA COR AMARELO




SIGNIFICADO DA COR AMARELO



O que significa a Cor Amarela:

A cor amarela significa luz, calor, descontração, otimismo e alegria. O amarelo simboliza o sol, o verão, a prosperidade e a felicidade. É uma cor inspiradora e que desperta a criatividade. Estimula as atividades mentais e o raciocínio.

O pintor holandês Vincent Van Gogh explorou em suas obras as tonalidades da cor amarela de forma muito intensa.

Um ambiente pintado de amarelo traz mais calor e iluminação. É ideal para dar a sensação de calor em ambientes frios e escuros. Também proporciona concentração e atenção, por isso, é recomendável para escritórios e salas de estudo. Em excesso, pode provocar distração e ansiedade.

Nos semáforos, a cor amarela recomenda alerta e atenção.

O amarelo é a cor dos signos de Gêmeos, Touro e Virgem. O signo de Leão está associado ao amarelo-ouro.

A cor amarelo-ouro (dourado) representa a riqueza, o dinheiro e o ouro. Está associada à nobreza, à inteligência e ao luxo.


O MEU OLHAR É NÍTIDO COMO O GIRASSOL


O Mundo não se Fez para Pensarmos Nele


O meu olhar é nítido como um girassol. 
Tenho o costume de andar pelas estradas 
Olhando para a direita e para a esquerda, 
E de, vez em quando olhando para trás... 
E o que vejo a cada momento 
É aquilo que nunca antes eu tinha visto, 
E eu sei dar por isso muito bem... 

Sei ter o pasmo essencial 
Que tem uma criança se, ao nascer, 
Reparasse que nascera deveras... 
Sinto-me nascido a cada momento 
Para a eterna novidade do Mundo... 

Creio no mundo como num malmequer, 
Porque o vejo. Mas não penso nele 
Porque pensar é não compreender... 

O Mundo não se fez para pensarmos nele 
(Pensar é estar doente dos olhos) 
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo... 

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos... 
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é, 
Mas porque a amo, e amo-a por isso, 
Porque quem ama nunca sabe o que ama 
Nem sabe por que ama, nem o que é amar... 
Amar é a eterna inocência, 
E a única inocência não pensar... 

Alberto Caeiro, O Guardador de Rebanhos - Poema II